segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Apesar de...

Já dizia Clarice Lispector...
“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.” 



(Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres.)

O dia amanheceu alegre... mas eu não, hoje não, talvez amanhã... ou mais tarde
Quem sabe...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma dose de saudosismo, por favor...

É nostálgico sair com pessoas que nasceram na mesma época que você e que conviveram com você desde que não tinha um tamanho considerável nem para o posto de 'criança' (sempre fui a menor da turma, portanto era a primeira da fila... ODIAVA!).
Ontem reencontrei amigos de colégio... aqueles com os quais ficava 'de mal' e 'de bem' por qualquer motivo bobo (que na época era questão de vida ou morte, mesmo que não soubéssemos exatamente o que representavam essas duas palavras), e ficamos relembrando, como num clubinho de senhoras de mais de meia idade, que 'na nossa época', crianças brincavam com outras crianças, crianças andavam descalças e viviam sujas de tanto aprontar, num tempo em que as palavras 'garotos', 'sexo' e 'salto alto' eram quase desconhecidas e não recebiam ou mereciam atenção...
 O que mais me fez sentir a diferença foi relembrar a época em que começamos a sair a noite, uma aventura empolgante de ficar numa lanchonete olhando o movimento e tendo conversinhas a toa, algumas vezes indo além do que nossos pais deixavam, dando uma ou duas voltas no quarteirão (nos sentíamos corajosas, era tão bom) e voltando a mesma lanchonete, pois no horário combinado o pai de uma das meninas ia nos buscar, e 'ai de nós' se não estivéssemos lá no horário certo (lembro que o máximo que conseguíamos negociando com os pais era 22 horas, e olhe lá); e ontem estávamos de carro, fomos aonde queríamos ir e voltamos no horário em que achamos melhor... Não parece, mas faz uma diferença, ainda mais estando com as mesmas pessoas...
(É Bom relembrar, nos faz sentir vivos e nos faz querer viver mais, pela curiosidade de saber o que ainda virá...)


Me lembro que, cada momento de nossa infância era composta por brincadeira, birra e muitos objetos quebrados... e mesmo apanhando de chinelo, éramos felizes...
Hoje, é triste de se ver, as crianças se negam, e se tornam adultas antes de seu tempo... estão vazias de alegria pura e ingênua... pensam de modo vaidoso e se deixam dominar por valores que elas nem entendem ainda...
Para aqueles que ainda duvidam desses fatos, assistam ao vídeo...




E para quem gostou, recomendo que assista ao documentário inteiro que também está disponível no Youtube...




Só quero compartilhar mais uma coisa (nada a ver com o assunto, já vou avisando):


'Veja o mundo num grão de areia, 
veja o céu em um campo florido, 
guarde o infinito na palma da mão,
e a eternidade em uma hora de vida!'
William Blake


Até hoje não tinha ouvido falar desse poeta e pintor inglês e graças a dica de um amigo, achei mais um que completasse minha vida com sua poesia (apesar de possuir algumas poesias pesadas de crítica...)
Vale a dica...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Para sempre ser lembrado...

Apesar do título fúnebre (não sou boa em inventar títulos, mas como antes os professores sempre exigiam título para redações, hoje me incomoda em não colocar um... um dia me livro dessa culpa), não se trata de nada que seja triste... Trata-se do Teatro, algo que na verdade estava ansiosa para compartilhar.
Não tenho aquele histórico de ter nascido em palcos ou ser criança prodígio, mas foi paixão a segunda vista, uma paixão que me fisgou de modo sincero, me ensinou a valorizar os sorrisos que nos são oferecidos, a me livrar algumas vezes de meu próprio peso, a nunca querer abandonar ou negar o meu lado 'criança', a ser mais paciente com meus próprios defeitos e dificuldades, além de me acostumar a falar com o espelho ou andar para lá e para cá repetindo a 'tal fala difícil' (ser louco é ser normal... vai por mim). No palco me apaixonei (sentido literal da palavra )  e no palco fiz amizades que quero levar para sempre. É inexplicável o prazer de fazer os outros rirem ou se atentarem ao que você faz em cima do palco... e pensar que antes de entrar, suas pernas tremeram e sua barriga ameaçou doer (quando não doeu)
Enfim, foi uma etapa pela qual passei e passaria mil vezes mais, se pudesse, com as mesmas pessoas, nos mesmos palcos. Só tenho a agradecer!


Para finalizar, uma poesia que escrevi, não é nova, mas se renova a cada lembrança bem vivida...


Minha paixão não tem um nome certo, nem um sentimento definido
Ora sorri, ora chora; ora sonha, ora desiste; ora vive, ora fantasia
Ela tem vários nomes que se juntam em um ideal e esse ideal sobe em palcos
Seja o da vida, seja o de concreto ou madeira 
e, de qualquer forma, emociona
e toda magia se concretiza em olhares atentos
na esperança da próxima cena
na imaginação dos que presenciam
no abrir e fechar da cortina
e nas luzes finalmente se apagando
para que outros espetáculos comecem!




**Aos que pensaram 'nossa, que poeminha sem estrutura' ou 'mal rimado'... finjam que sou Modernista!
;D


Até a próxima

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bem vindos, Bem vinda

Inicio este Blog, que tem a intenção de não ser necessário, nem ter um foco, apenas como modo de contato maior com o mundo e com o que gosto nele, explorando também o que não gosto (Deus abençoe a nossa capacidade crítica), revelando aos poucos o que sou, o que fui, e o que nunca poderei ser; uns pedacinhos de mim que nunca pude revelar a mim mesma...


Compartilho a  poesia que me inspirou a finalmente montar este Blog, que revela o modo em que encaramos e contestamos a vida... tudo se acaba em rima, sem solução...

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade

Indico que leiam sobre este autor e com muito mais carinho as sua obras, assim como eu fiz por esses dias...