domingo, 25 de dezembro de 2011

Sunday, sweet sunday!

Não te aflijas com a pétala que voa: 
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando em mim.


E por perder-me é que me vão lembrando, 
por desfolhar-me é que não tenho fim.
 (4º Motivo da rosa- Cecília Meireles)


Revigorar-se com um livro de poesias (um precioso presente) que contigo conversa, e conta segredos como o de viver mudanças. Sentir o cheiro da chuva em suas primeiras lágrimas a dar vida à terra. Balançar-se suavemente n'uma rede e deixar parecer que é o vento que brinca. Ter a família ao lado, ver todo bem 'apesar de'. É o que me basta para viver bem um dia, como se fosse a vida inteira.A cada dia morremos um pouco... Uns logo já dramatizam seu fim, outros aproveitam tudo o que ainda têm de bom! 'É' preciso renascer e deixar-se ressurgir a cada dia! 
Quero ser, deixar de ser!




Ah, esses meus pensamentos... bons companheiros dos finais de tarde!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Tempo, tempo...

Era ela, pequena menina, cabelos curtos, tão finos que ainda dançavam fragilmente com o vento, de perninhas finas e quase quebráveis. Corria atrás do pequeno filhote que acabara de ganhar, explorava todos os cantos do quintal de cimento remendado.  Outra...
No Ano Novo, vendo toda família reunida uma ultima vez, com um vestido branco feito a mão pela mãe. Cartazes de bons desejos, mesa farta, irmãos tocando e pai cantando, sono. Dormiu antes d'outro ano chegar. Novamente...
Decorando quatro versinhos antes de apresentar-se junto a outras crianças. Versos que falavam sobre Tiradentes. Usava seu vestido preferido... Ao mesmo tempo, o que mais penicava. Recitou com a voz trêmula. Depois seus pais a levaram a praça para brincar e tirar fotos. Mais... Muito mais vem à mente.
E piso em todos os lugares que já vivi. O passado não volta. Continuo caminhando no limite do que é presente e futuro. Todo olhar sempre é uma nova perspectiva a se revelar. Já não olho com os olhos que enxergavam há anos atrás. O que fica é a lembrança: um cheiro, um gosto, um gesto. Os rostos já mudaram, os abraços mudaram sua exigência de conforto. O amor se diferenciou. O coração e as pernas continuaram a tocar a vida do resto do corpo. 
Que eu possa continuar vivendo com pequenas e saborosas colheradas. O final chega, inevitável e algumas vezes brutal. Mas quero olhá-lo e suspirar satisfeita da vida que vivi!


Não preciso correr, sinto e absorvo as pedras e flores do caminho.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

(Des)acostumar-se

Hoje nossa professora de Histórico Cultural nos presenteou com um lindo texto para encerrar a matéria!

EU SEI, MAS NÃO DEVIA

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti)


Ela dedicou-nos o texto, desejou que nunca nos acostumemos com certas situações por comodismo ou pressão social...
Pois bem, dedico não o texto, mas toda a profundidade que ele carrega à uma boa parte de minha família e para todos aqueles que um dia sugeriram que eu desistisse, que 'deixasse quieto' ou esquecesse.
Desejo que entendam e respeitem o fato de eu não me acostumar com apartamentos, janelas fechadas e quintais cimentados. Que não me acostumo com mentiras (inclusive as minhas próprias), com arrogâncias e todos os tipos de palavras que machucam os que amo. Que não me acostumo com o passado que tive, e que perdoar nunca será esquecer. Que não me acostumo com quem não aceita ou simplesmente convive com minhas diferenças.
Que não me acostumo com corrupções, invejas e discriminações. Que não me acostumo com as bitucas de cigarro, copinhos de plástico e afins que jogam no meio da rua, diante de meus olhos. Que não me acostumo com exemplos e morais passadas, puras enganações. Que não me acostumo com certas ausências e muito menos com presenças forçadas. Que não me acostumo com as falsas amizades e falsos amores. Que não me acostumo com a brutalidade e capacidade dos meus próximos em magoar. Que deixo-os sobretudo livres para não se acostumarem comigo!!! Que eu mesma já não me acostumo com o que tenho de mim, pois a cada dia, sou-me outra, sempre reconstrução!
 (Obrigada professora)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D

Só para enfatizar, hoje comemoramos os 109 anos do meu querido e eterno inspirador Carlos Drummond de Andrade.
Eternamente e merecidamente lembrado!!!
Leia mais aqui...


"Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,Mas a poesia (inexplicável) da vida."

domingo, 23 de outubro de 2011

Uma música para o domingo

Para o dia não-mais-tão-calmo e de tonalidades belamente tristes, que precede os dias de correria, dedico-lhe uma música na qual sempre me lembro em teus semanais dias... 
Original- Radiohead

sábado, 8 de outubro de 2011

Nosso mundo gira loucamente...

Queria com a voz mais doce adormecer-te em meus braços...
e a cada abraço fazer-te leve
Levar-te a voar comigo no céu mais denso e doce.
Com mãos suaves que te arrepiassem a voz.
Nos nossos dias em que tudo é possível, 
quero contigo continuar sonhando.
Ter dessa companhia os sorrisos mais sinceros
Os olhos mais cativantes...
Que prendem-me quando estás e roubam-me quando deles lembro
Rosto, corpo e pessoa que me encantam,
que movem meus dedos a escreve-te essas linhas.

(The Weepies- World Spins Madly On)

Ah, como os dias são suaves e ternos ao seu lado!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Que seja Doce!


Esperança, a lágrima contida, o sorriso esperado, o abraço que prepara e aquece o corpo...
Vã quando sonho, quando me cega e me transporta para minhas utopias.
Realidade que se materializa no viver, em cada passo que dou e que possibilita que eu presentifique as possibilidades futuras e me desprenda de tudo o que é passado...
Peço-me, não te abandones...
Mas também... não se vicie no que não é, esperando passivamente acontecer...
Então...
"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”
Caio Fernando Abreu

Pois se deixo a minha janela aberta, é porque respiro a docilidade de agir, viver e nunca deixar de desejar!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Percepções viajantes

A espuma d'água que cai no céu.
O homem que constrói e é destruído por sua própria criação. Capaz de virar um mundo de ponta cabeça.


Um horizonte belo, um ar calmo.
Encontraria isso em qualquer lugar, mas, ali não era qualquer lugar.


Perder-se no estranhamento acolhedor.
Ter a felicidade de não possuir ponto de partida nem de chegada.
 


Ver nos rostos uma mistura, um conforto de lar muito diferente do que já senti.
Rostos pintados de fé. Rezas e persistências que movem coletivamente pessoas estranhas entre si.


Nas ladeiras deixar rolar toda prisão gerada pela terra.
Sentir nas serras que cercam um pequeno mundo, um abrigo que liberta.


Entender que sorrisos ainda são bem-vindos e que conversas ainda podem ser longas.
Chegar num espaço leve onde a loucura é apenas um dos parâmetros alcançáveis da inatingível normalidade.


Anoitecer por dentro, deixar ir o que me leva, deixar para trás o que levo comigo. 
Ver no céu uma estrela que equivale aos pontos luminosos que brotam no chão.




Viajar faz bem ao organismo e à história pessoal!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Som de sensações...



 Trata-se de 'Postcards From Italy' da banda Beirut. A banda começou a fazer sucesso no Brasil depois de ter a música 'Elephant Gun' usada como trilha na minissérie 'Capitu'. Foi nessa que eu também conheci e me apaixonei pelo som deles.
Não vou cometer a injustiça e eleger essa música como a melhor da banda, mas devo confessar que é uma das músicas que mexe mais comigo. E esse mexer chega a ser ambíguo, uma mistura de felicidade, tristeza e  saudade... complexo. 

Acho que, pelo fato de terem feito clipe e musica que se encaixam perfeitamente um ao outro, com as 'viradas' (se é que poderia falar assim) de ritmo, imagens familiares e em tom levemente sépia que remete a filme antigo, tudo junto, sem exageros no som e nas imagens, ficou perfeito. Talvez por ser um toque calmo, mas com um tanto de barulho (que me lembra um pouco cenas daquelas festas de rua mais antigas)  devido aos instrumentos diferentes que eles usam, e imagens que deem um toque de lembrança a todos que assistem,  que venha a tal dose de saudosismo e nostalgia. 
Mesmo que a família não seja nossa, que os acontecimentos não sejam nossos, e, particularmente, pelo fato da minha família nem ter esse costume de gravar cenas simples da união já passada, o clipe estabelece uma certa proximidade conosco por se tratar de um tema comum, seja isso bom ou ruim. Acho que a maioria acaba lembrando da família e da infância quando assiste ao clipe.
O efeito em mim é até maior, nem preciso mais assistir ao clipe, só a música já remete a muitas lembranças que dão essa desordem de alegria e tristeza. Aliás, a música passa-me também um ar de vitalidade, de força para 'continuar'. Fora que agrada muito aos ouvidos, tanto pelo estilo de música, quanto pela boa e dosada mistura de instrumentos (entendendo que é uma dose diferente, mas que deu certo).
Vale a pena também ler a letra da música, que também tem muita relação com o tema sugerido, principalmente em trechos como:



"The times we had. Oh, when the wind would blow with rain and snow.  Were not all bad (...) In my good times. Those are our times."


Enfim...
A melhor parte é que já passou, e a gente continua!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Já ouvi pessoas rezando para viver mais,
Já ouvi pessoas clamando pela morte.

Ambas morreram,
fim!

...Pois li um dia numa parede pixada "A gente não nasce nem morre, só sai do campo de visão normal."
Isso ficou,
Ecoa desde então...

Como falar de morte, então?!


sábado, 10 de setembro de 2011

Para hoje, sempre Ontem

O tempo não tem perdoado as vãs tentativas de quietude,
O corpo... sinto até dó deste que me leva, pois já se arrasta revirado.
Os olhos que vês, brilha, não se engane, por desejar tanto uma lágrima que faça borrar a vista.
Os dedos que se cruzam desejam no fundo, que uns aos outros, se sufoquem,
A ardência que passa pela boca, nariz, testa, é todo o movimento que se nega a existir.
Cada palavra não dita, cada gesto amputado, é um micro-mundo que entope as veias.
Aos poucos estagna-se...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Boa música


Acho que já vi esse vídeo em outro lugar!


It's a shame we have to die my dear
No one's getting out of here alive
This time...


domingo, 4 de setembro de 2011

'Temos todo tempo do mundo' (?!)

O sangue que me corre vai lento,
cansado me alimenta, sustenta minhas desistências,
Faço boas coisas, atos que me satisfaçam,
mas até então nada que me contenha.
A cabeça ferve de desejos,
atormenta minhas noites com medos.
O mundo me diz que posso ser o que eu quiser,
mas ainda me custa muito buscar ser eu mesma.
Eu que sei meu fim mais certo, ainda penso o que serei,
temo desistir demais, insistir demais.
Fazer tudo errado parece tão fácil e tentador.
Adequar-se a tudo é desistir de si.
Faz tempo que não sei mais o que parece certo ou errado... menos mal.
Viver é complicado!


Para fechar com chave de ouro esse domingo cansado, uma música que faz pensar, me agrada!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Você tem sede de que? Você tem fome de que?

Para que várias pessoas se reúnam, mesmo que com objetivos diferentes, mas com uma causa em comum, gritando e cantando, unindo vozes e transformando-a em uma só voz, que pede, clama, briga... creio que algo está errado não é? Um corpo não se movimenta quando em equilíbrio, e se agita intensamente quando o desequilíbrio é forte, ele luta pela sobrevivência. Então, por que fingir que não ouve, que não vê, que não entende tanta agitação? Por que negar certas condições visíveis a todos? 
Por que achar que estamos ainda submetidos, e que por isso nunca levantaremos nossas vozes?


Vimos na história que pessoas 'de poder' escolheram tirar vidas, calar vozes, quebrar sonhos e ossos, queimar esperanças e corpos inteiros a simplesmente tentar resolver o problema. Ainda hoje fazem isso!
Mesmo com tantos fatos que condenam nosso passado e deveriam fazer-nos refletir, não é difícil encontrar pessoas que além de não defenderem um possível diálogo, tão importante em conquistas e avanços, chegam com um discurso equivocado e estagnado, que intitula, nomeia, distribui rótulos à massa que se agita... "os arruaceiros, drogados, vândalos e insatisfeitos".
 Esses, meus caros, tenho certeza, cuidam da vida dos outros pois negam a sua própria e nunca foram capazes de lutar por nada, nem por sua própria dignidade, entregues finalmente a mídia que massifica pensamentos e manipula possíveis opiniões. A falácia é a mesma, a falta de coragem é a mesma, o comodismo é o mesmo, a cegueira social...
A conscientização das condições do ser humano deveriam servir-se para que este lutasse por mudanças, que buscasse mudar, fazer diferente, pregar a diferença... Mas o que vemos, que vergonha, são pessoas que lamentam de si, olham para o chão e voltam para sua confortável e já laceada poltrona e se permitem serem invadidos por ideias superficiais e cômodas. Triste daquele que crê não ter condições para mudar a si e ao chão que pisa. 


Portanto, os arruaceiros que bloqueiem ruas, os insatisfeitos que busquem justiça, os vândalos que quebrem e estilhacem os estigmas sociais, e aqueles denominados massivamente de drogados e desocupados que provem ter muito mais capacidade e consciência do que esses que tentam atingir com palavras cristalizantes.

 Se os famosos direitos fossem cumpridos e respeitados por TODOS, não precisariam ser nomeados, não precisariam ser pronunciados em coro pela sua falta, pois já teriam sido revertidos em AÇÕES!


Queda do estudante de Medicina na Cinelândia, Movimento Estudantil, RJ, 1968.


Para que a história nunca seja esquecida, 
Para que o futuro nunca seja ignorado,
Para que a luta nunca seja abandonada!



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O que lateja é a cabeça, o peito, o passo.
Os olhos que não vêem o caminho, a mão que não se apóia no abismo.
O mundo que gira independente dos nossos gritos.
Os gritos...
Doces, aos costumes dos que são calados.



Entendi que sou o que quiseram fazer de mim,
Sou só, neutra, calada, ser impessoal.
Com o andar apático, o olhar no chão, 
sorriso arrancado, forma de não compartilhar qualquer motivação.
Aprendi a temer minha imagem, a negar ajuda e a desconfiar das velhas promessas de paz.
Aprendi a não aprender mais do que o necessário para que eu fosse útil,
para que eu fosse aceita.
Aprendi a ser Normal.


A cabeça pesa e o corpo empurra.
As mãos cansam e as veias latejam.
Os pés descalços sentem o chão a roubar o que já foi calor.
Os olhos cansados correm o chão sem sustento.
A vida que acaba independente das nossas lágrimas.
O sal que nos cai, sustenta nossos dilúvios.
As amarras que criamos para nossas mudanças,
São as nossas maiores confidentes.
E os braços que tentavam dissipar qualquer dominação
Hoje almejam tudo o que no mundo fora do seu, nunca lhe pertencerão.


Quando vi tudo o que não sou, tudo o que me negaram,
A moral bateu nos meus ombros e me deixou
E eu que sempre fui só,
via-me agora só.
O frio teve mais importância, o chão ganhou justificativas,
Sempre esteve sob nossos pés, aguentando fardos.
O mundo re-virou, viraram detalhes,
Como o pingente que eu nem reparei que carregava sobre meu peito.
Como as lembranças que eu sempre neguei carregar...


Hoje,
sonho.

domingo, 14 de agosto de 2011

Poética


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
                protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
                                                o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas


Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

                                                                            
                                                      (Manuel Bandeira, Libertinagem- 1930)




Assim seja!

sábado, 13 de agosto de 2011

Problemática dualista

Há uma igreja a cada esquina
                                                            Há uma mulher a cada esquina
                              
                      Com todas as opções possíveis no mundo
                                  sacro e carnal
                    disputam sempre a mesma freguesia.



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cantiga de Enganar

O mundo não vale o mundo, 
                                           meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas 
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
                 meu bem,
                                   não vale
a pena e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir, 
de quê? de mim? ou de nada?

(...)
                                          (Carlos Drummond de Andrade)


Sem mais!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dê-lhe tempo, corpo; acalma-te, alma; esta pessoa que vos sente, olhem bem, já não sabe o que é;
o que já foi e o que pôde ser.
O mundo grita na surdina, já não pode tanto ouvir; não ouve nem a si mesma.
Anda disfarçadamente maltrapilha, procurando onde deixou a sua coberta que carinhosamente chamou de 'dignidade'.
Pede esmolas com os olhos, reza para conseguir sorrisos,mesmo que já não saiba o que fazer com estes.
Come com o coração, por dentro, tudo o que rumina, tudo o que lhe parece azedo ou amargo.
O amargo que corre nos capilares, atinge os músculos e faz-lhe esticar-se, como um corpo estranho que é seu corpo.
Sorri por não saber o que fazer, oferece-o com o medo de que lhe exijam muito mais e além.
Quando sente-se sinceramente e profundamente mal, não pode repelir-se, já não se desprende de seu próprio mal.
Esta pessoa que vos sente fala da vida, imagina futuros, mas onde está ela nisso tudo?
O espelho não reflete mais quem ela conhece por si mesma. É alguém que a olha fixamente para depois desviar e desistir de se procurar ao menos externamente.
Vomita para dentro, tudo o que queria vomitar e oferecer ao externo, deixando-lhe dissipar no ar.
O corpo estranho treme, engana-se com o frio. Começa a suar, 'é o cansaço, essa possibilidade de esquentar'.
Suas mãos espalmam-se de modo sutilmente rude. No fundo ela só queria se acabar um pouco. Por fora tudo grita 'desista'.
Os dentes rangem, os olhos perdem-se. Busca duramente sentido no que chama de rotina.
Equilibra-se em seus próprios medos, cortantes ou simplesmente contestadores. Teme suas proprias contestações.
Teme tudo o que promete aos outros, pois já não pode cumprir as promessas feitas a si mesma.
O mundo, vezes gira depressa, vezes se estagna no ar. A cabeça roda, já não tem mais onde se apoiar...
Tudo cai...


Ela acorda, boceja, 
...
...
...
O primeiro passo é sempre o que dá mais medo,
mesmo que seja o de todos os dias.



sexta-feira, 29 de julho de 2011

(...) Yo sólo puedo luchar contra la fuerza de los hombres (...)

Começar o dia com...

(...)
Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nacár soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.
Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.

(Pablo Neruda, Veinte Poemas de amor y una canción desesperada)


, e um café bem forte...

o resto é cotidiano,
mas também não deixa de ser encantador aos meus olhos.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Corro.
O mundo treme aos meus olhos que logo embaçam,
Já não faz mal, não vejo meu caminho, mas tudo o que já presenciei. Estou em dois lugares e quebro minhas próprias leis.
Teus velhos olhos, cansados, ainda me olham, me enganam e me prometem paz.
A paz que busquei me enganou; eu me enganei. Sabia no fundo que tudo é o contrário do que se quer!
Acelero.
Já não corro por correr, sinto que vou fugir.
Uma lágrima se mistura ao suor, ignoro-a, é mais uma...
Minhas pernas disparam, quase se apartam de mim, meus braços já não sabem a quem estão a obedecer.
Não sinto. Ainda estou dentro de qualquer lugar que não seja o que vejo.
Teus olhos sorriem, me abraçam. Se apartam...
O tempo que volta já morreu, não existe mais além de dentro de mim.
Parece vivo, tocável, mas inalcançável.
Seus olhos se entristecem, fecham-se.
A lágrima do que já foi lateja. Arde em meus olhos secos...
Me vejo e já não sei o que é, do que se trata.
Tudo se mistura aos compromissos. Seus olhos se dissolvem no meu olhar, que volta ao tempo real.
Suspiro e diminuo os passos. Meu coração parece que explode por dentro. Naturalmente.
Sinto o frio agora se envolver com meu suor. O mundo é dois e um. Eu sou uma e tento quebrar-me em várias para percebe-los.
Quase sempre é bom retomar sem precisar voltar...
Quase sempre!

sábado, 2 de julho de 2011

Ahh, férias... não sabia que ia te querer tanto assim, mesmo com duas humildes semanas!...


Para começar bem esse período de ócio, trago um vídeo do Monty Python sobre Déjà vu. Eu pelo menos ri muito e ao mesmo tempo fiquei agoniada, ainda mais lembrando de quando isso acontece comigo...




Para quem não conhece nem Monty Python, recomendo, agora para aqueles tais momentos de férias em que se entedia facilmente, mas vale para qualquer momento... é um tipo de humor que infelizmente não encontro mais... 


... acho que já escrevi esse post antes...


(sem mais ''profundidades'' por hoje)

domingo, 12 de junho de 2011

Sweet days

Para o(s) Dia(s) dos Namorados...  
Para todos que amam, são amados e que carregam consigo a prece de que seja eterno, mesmo que finito!
Para todos que amam e vivem na incerteza do sentimento do ser amado, que essa incerteza apenas aumente a coragem em dar um primeiro passo ao que poderá ser uma longa caminhada ao lado da pessoa amada!
Aos que choram o amor perdido, que todo des-amor seja um motivo a mais para o re-amor!
Aos que negam se permitir amar, para que nunca seja tarde para repensar o tanto que se nega ao viver sem o melhor sentimento que há na vida!
Aos que amam perdidamente, que não se deixem abalar por qualquer detalhe, pois o amor também carrega um pouco de seu sofrimento!
Aos que sentem...


A música que dedico para (e por) esses dias é pessoalmente importante (ELE entenderá)...



Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo
Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto
(Preciso Dizer que Te amo- Cazuza)




Para 'finalizar' compartilho também uma bela poesia de meu querido inspirador, Carlos Drumond...



Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !


Que seja possivel amar, além das datas!
;)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias,
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…
Cecília Meireles


O tempo de vivermos é incontável. 
Contam-se datas, lembranças.
Contam-se horas para que alguém chegue...
...O presente passa e se renova, não deveria-se pois quantificá-lo (desperdiçando o próprio viver), 
basta-nos senti-lo!




quinta-feira, 19 de maio de 2011

Enquanto isso...

Enquanto estudava por esses dias, deu-me uma vontade de escrever uma breve 'poesia'. Para não perder essa 'inspiração', que tem se tornado cada vez mais rara e passageira, escrevi no meio do meu material de estudo mesmo... Tornou-se até mais agradável quando peguei este material para estudar nos outros dias... aquele rabisco, do nada, no meio de um assunto tão mais  sério e complicado, mas que mostra o quanto preciso parar parar as vezes para retomar o fôlego da correria que tem sido (em termos...)
Aí está o resultado:


No tango da incerteza, nossos passos já sei de cor,
(''um para frente, dois para trás, dois para frente, um para trás'')
E se vou para os lados, rodopio e me escapo de suas mãos,
chego ao teu oposto e disparo em sua direção,
te alcanço e me deixo partir novamente.
Nessa infeliz dança, cada um conduz seus próprios pés,
mas ainda sim nos encontramos no compasso, no ritmo
e sempre com a mesma batida de emoção.
Você olha para meus olhos, seus opostos
Me encoraja com sua disposição
Pisa forte e me amedronta
Me joga uma rosa e me toma nas mãos...
... e a dança termina.
O resto é história!


Vale a pena parar as vezes, não vale? Fazer o que se gosta, sem pressa, sem se exigir, retomar algumas boas reflexões e até mesmo as não-tão-boas... Vale mesmo sentir que os dias passam, vê-los diante dos olhos, e ver-se neles... Até com um simples gesto de escrever uma simples poesia, sem rimas e boas formas, mas que diz um pouco do que minha pressa não me permitia ver em mim mesma, em meu mundo...
Enfim...

domingo, 8 de maio de 2011

Todos os dias

Que todo dia seja dia das mães,
dia dos pais,
dia das famílias,
dia dos amigos,
dia dos amores,
dia das mais diversas formas de amor e modos de amar;
dias de se sentir triste,
dias de se estar feliz,
dias de chorar,
dias de explodir de alegria,
dias de explorar,
dias de apenas observar,
dias de pensar,
dias de serem simplesmente dias...!

Dias de se Viver, para vivermos Todos os dias...!




Obs.: Mãe, te amo tanto e sempre mais, seja perto ou longe, sorrindo ou chorando, brigadas ou amigas; te amo a cada momento pois  faço parte da senhora, e a senhora compõe essencialmente minha vida; saiba que este não é o único dia em que penso na senhora, saiba que nunca deixarei de pensar em ti, mia senhora!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Detalhes essenciais

Sábado chuvoso;
Borboleta na janela;

Ótima companhia.
E toda vida que lateja naquele dia já vale a pena...


Música de efeito?! Claro...
Eyes on Fire- Blue Foundation

Mas bem baixinho, só de fundo, no pensamento...

sábado, 23 de abril de 2011

Me diz,
 pr'onde vão os balões que as crianças sem querer os soltam pelo ar?!

Só sei que eu, humana e errante, continuei aqui quando minha criança soltou-me de suas mãos...
E um dia,
 com meu próprio balão, soltarei-me com ele e finalmente poderei voar...!!!
Pr'onde os balões vão quando estamos indo junto?
Pra mim já não importa tanto... desde que ele vá longe o bastante... até que nos dissipemos no infinito do    horizonte...
 e eu já não possa revelar o quanto olhei para trás...